sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A pinga pede o corpo. |Cumplicidade|


fotografia tirada na segunda-feira, 12 de março de 2007 - próximo ao Terminal Rodoviário Tietê, São Paulo, SP.

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A pinga pede o corpo
que pede o chão
que pede o corpo
que pede a pinga se o corpo cai
equilibra a pinga
que o chão evita
que se derrame
que a pinga prende
o corpo ao chão
que se levantar
evita a pinga
que pede o corpo
que pede o chão
que pede a pinga
e se reerguer o mendigo
a indústria da miséria entra em falência
porque a pinga gera impostos
porque o corpo que bebe
caindo ao chão não incomoda.


Poema: Cumplicidade - de Sebastião Nicomedes - Escritor/Pintor - ex-morador de rua

"Um dia, um outro morador de rua sugere que ele escreva sobre a vida nas ruas, para que a situação mude. Ele acata a sugestão, o que transforma sua vida completamente."


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Sebastião Nicomedes de Oliveira nasceu em Assis-SP no dia 07/10/1968. Foi criado por pais mineiros, junto com seus sete irmãos. Estudou até a quarta série em Assis, de onde só saiu quando seus pais morreram. Foi para Sabará-MG, onde passou a morar com sua irmã mais velha, que era missionária. Ali, estudou até a oitava série e, na escola, escrevia poesias para a menina de quem gostava. Mostrando que levava jeito para a escrita, ganhou um concurso de redação do Senai ao escrever uma homenagem para sua mãe. Ainda em Sabará, trabalhou como guia turístico e recepcionista da igreja que freqüentava. Este não foi seu primeiro emprego. Por volta dos 8 anos, ele já havia tentado trabalhar colhendo algodão e cortando cana, mas não gostou das tarefas. Quase dez anos depois, entrou para a Marinha como agregado e saiu, depois de seis meses e meio. Ao completar 18 anos, viajou pelo Brasil, passando por São Paulo-SP, Maceió-AL, Salvador-BA e São Sebastião-SP. Depois de tanto viajar, fixou-se em São Paulo, trabalhando com placas e letreiros. Em 2003, exercendo sua função, caiu de cima de um andaime improvisado, foi hospitalizado e dado como morto. Quando teve alta, passou a morar nas ruas e transformou suas experiências cotidianas em temas de seus escritos. Hoje mora no Brás, em São Paulo, tem um livro publicado, uma peça que já foi encenada nos palcos - Diário de um Carroceiro - e dirigiu uma cena de um filme.

fonte: Museu da Pessoa
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5 comentários:

  1. a foto traduz muito bem o poema e vice-versa.

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  2. Sabe bem que malvada faz.......pelo amor...

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  3. Quem já não dormiu numa calçada achando que estava numa cama King Size?

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  4. um retrato da falencia do estado e da decadencia do ser humano...
    quando o mesmo desiste de lutar e simplesmente se entrega a uma anestezia da realidade,por estar assim he mais facil de suportar a cobrança da propria sociedade .
    deus nos abençoe.

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  5. Se um raio cai no mesmo lugar
    duas vezes
    Qualquer um de nós é capaz de
    parar, e pensar, e dizer, e falar
    Por que eu? Por que eu?
    Por que eu? Por que eu?
    Mas a cidade é muito grande
    A cidade é gigante
    A cidade é covarde
    com os que mais precisam dela
    Os raios então são mais de dois
    São muitos e sucessivos
    E é por isso que ele está aí
    Sujo, frio e bêbado
    Sujo, mas não tão sujo quanto a sociedade
    Frio, mas não tão frio quanto a impiedade
    Bêbado, mas não tão ébrio quanto a passividade
    Sujo, frio e bêbado

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